O principal meio de acesso que o paciente suicida possui a equipe médica especialista é a Atenção Primária à Saúde. Por essa razão, é de extrema importância que todos os profissionais da saúde, equipe de gestão e suporte técnico de enfermagem estejam habilitados a atender este tipo de paciente. O paciente com ideação suicida pode estar enquadrado no espectro de doenças psiquiatras comuns (depressão, transtorno bipolar, borderline, transtorno esquizoide e de personalidade histriônica).
No entanto, a maioria das equipes de gestão dos centros de saúde delegam o cuidado desses pacientes a CAPS (centro de atenção psicossocial), muito provavelmente, esta transferência deve-se a ausência de instruções claras e precisas com relação ao cuidado com o paciente suicida.
Definição do perfil mental suicida
Durante a descrição dos modelos biomédicos para pacientes com ideação suicida, inúmeros profissionais desenvolveram seus diagnósticos no sentido da estigmatização. Indivíduos suicidas “por causa natural” ou por determinação genética era, frequentemente, um estereótipo adotado.
Hoje, com o avanço das pesquisas genéticas e biológicas, sabemos que um indivíduo que possui ideação suicida encontra-se em um quadro temporário. Por isso, o primeiro passo no acolhimento desses pacientes seria a suavização dos estereótipos e um julgamento mais objetivo sobre os casos, considerando as condições individuais.
Nesses casos, o estado neural do suicida é, muitas vezes, caracterizado como uma ambivalência de sentidos: há uma luta entre a vontade de viver e o desejo de aliviar a dor, terapeuticamente, por meio da morte. Nesse sentido, a apresentação de terapias alternativas à dor, assim como a compreensão dela, seria um primeiro passo em direção a solução.
Outro fator a se considerar é a impulsividade do comportamento suicida. De certa maneira, a conduta pode ser justificada como uma alternativa desesperada e transitória para resolver algum evento negativo circunstancial (dívidas, divórcio, situações de culpa, crimes).
Nessa questão, o profissional da saúde pode ganhar tempo conversando sobre as possíveis soluções para o problema pontual do paciente em uma perspectiva mais otimista.
A rigidez de pensamento e o olhar monocromático são outras características do indivíduo suicida. Repetidamente estes pacientes não conseguem enxergar nenhuma evidência ou circunstância positiva, mas apenas a dor e o sofrimento. O médico ou enfermeiro, nesse momento, podem relembrar e ressaltar os pontos memoráveis e felizes da vida do paciente (o fato de possui família, não ter problemas de saúde, etc.)
Escala de risco eminente
No ambiente hospital, a classificação quanto ao risco do indivíduo, de fato, consumar o ato de suicídio é de extrema importância. Nesse sentido, os profissionais médicos podem recorrer as classificações de baixo, médio e alto risco. Considera-se que um paciente classificado como alto risco deve ser internado imediatamente e vigiado constantemente.
Baixo risco
Se o paciente teve pensamento suicidas não recorrentes e não estabeleceu nenhum plano de ação. Neste caso, apenas apoio emocional deve ser oferecido.
Médio risco
Se o indivíduo tem planos e pensamentos de forma recorrente, mas não tem a vontade de cometer suicídio de forma imediata. Nessa situação é importante entrar em contato com a família e estabelecer um contrato, oral ou escrito para que o paciente não cometa suicídio até a data de retorno.
Alto risco
Se o suicida possui um plano imediato e os meios para concretizá-los, o primeiro procedimento e o afastamento de qualquer objeto letal. O estabelecimento de contato com a família e a internação imediata também devem fazer parte das medidas tomadas.
Como avaliar a gravidade no diagnóstico
A avaliação médica é uma etapa imprescindível na abordagem e acolhimento do paciente. O primeiro processo seria a avaliação dos fatores de risco envolvendo o indivíduo hospitalizado. Dentre os fatores, podemos citar:
- Dependência química
- Menor idade
- Estado de consciência alterado
- Diagnóstico prévio de reincidência
- Efeitos de medicamentos diversos
- Ausência de apoio social
- Vulnerabilidade social
É relevante alertar que a pergunta sobre os pensamentos de suicídio não é um incentivo para o mesmo. No atendimento direto ao paciente ressaltamos a importância de perguntas do tipo:
Há quanto tempo você sente essa emoção? Por que você quer acabar com sua vida? Existe alguém importante para você? Você planejou este suicídio? Você se sente à vontade para falar nesse assunto? Você possuía meios para cometer o suicídio? Você mora sozinho(a)?
Fontes:
- Site Outra Verdade: http://outraverdade.com
- Organização World Health: https://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/en/suicideprev_phc_port.pdf